Luto Coletivo Papa Francisco

Vivemos em um mundo onde as perdas não são apenas individuais. Em momentos de grandes tragédias, como pandemias, desastres naturais ou a morte de figuras públicas, sentimos uma dor que vai além de nós mesmos um sentimento compartilhado, um luto que atravessa comunidades inteiras. Mas como entender esse fenômeno emocional tão amplo? A Teoria do Apego de John Bowlby pode nos ajudar a lançar luz sobre o luto coletivo. John Bowlby, psiquiatra e psicanalista britânico, é conhecido por desenvolver a Teoria do Apego, que mostra como os vínculos emocionais formados na infância impactam toda a nossa vida. Para ele, a perda de uma figura de apego alguém com quem temos um vínculo afetivo profundo pode desencadear um processo de luto com várias fases emocionais.

Quem foi Papa Francisco?​

O Papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio em 17 de dezembro de 1936, é o 266o e atual Papa da Igreja Católica, tendo iniciado seu pontificado em 13 de março de 2013, após a renúncia surpresa de seu antecessor, o Papa Bento XVI. Natural de Buenos Aires, Argentina, Francisco é o primeiro papa nascido no continente americano e também o primeiro jesuíta a ocupar o cargo.

Sua trajetória é marcada por uma vida dedicada ao serviço pastoral e à simplicidade. Bergoglio foi ordenado sacerdote em 1969 e tornou-se bispo de Buenos Aires em 1998, sendo elevado a cardeal em 2001 pelo Papa João Paulo II. Como papa, Francisco é conhecido por seu estilo humilde, ênfase na misericórdia e na inclusão social, e por suas posições progressistas em relação a questões como a pobreza e o meio ambiente.

Ele tem se esforçado para reformar a Cúria Romana e a Igreja em geral, promovendo uma abordagem mais descentralizada e menos rígida. Francisco também tem abordado temas delicados como a corrupção, abusos sexuais dentro da Igreja e a necessidade de uma maior participação das mulheres na vida eclesiástica.

O Papa Francisco ganhou reconhecimento mundial por sua abertura ao diálogo inter-religioso e por suas viagens a diversas partes do mundo, buscando aproximar a Igreja Católica de diferentes culturas e realidades sociais. Seu pontificado tem sido caracterizado por uma comunicação direta e simples, frequentemente utilizando a mídia para transmitir suas mensagens de paz, amor e compaixão.

Quando a Dor é Compartilhada no Luto Coletivo

Mas será que esses conceitos podem ser aplicados em situações onde toda uma sociedade sofre uma perda? A resposta é sim e de forma muito reveladora. O que é o Luto Coletivo? O luto coletivo acontece quando uma comunidade vivencia uma perda significativa e que a dor é compartilhada. Pode ser a morte de um líder, uma catástrofe, ou até mesmo um evento global como uma pandemia como por exemplo a Covid-19. Nesses casos, a dor não é só de quem perdeu diretamente, mas de todos que se sentem conectados com o que foi perdido. Entende-se que mesmo figuras simbólicas como artistas, líderes ou valores culturais podem funcionar como “figuras de apego” para um grupo. Quando essas figuras falecem, o impacto emocional é sentido por muitos como foi a figura do Papa Francisco.

As Fases do Luto Coletivo

Segundo Bowlby, a perda de uma figura de apego provoca uma reação de luto que se manifesta em fases como protesto, desorganização e reorganização. No luto coletivo, esse processo também acontece, mas em uma escala ampliada e com dinâmicas sociais e culturais envolvidas. A figura perdida pode representar segurança, identidade ou continuidade histórica, sendo vista, em certo sentido, como uma figura de apego simbólica para o grupo. O luto segue um processo emocional que também se aplica ao coletivo:

 – Protesto: A negação da perda, a incredulidade e a dor expressa em manifestações públicas, como vigílias ou homenagens.

 – Desorganização: Um sentimento de vazio coletivo, confusão social e até crises de identidade em grupos que se viam representados na figura ou no valor perdido.

 – Reorganização: Aos poucos, a sociedade busca reconstruir um senso de normalidade, ressignificando a perda e criando novos caminhos para seguir em frente.

Compreende-se as fases do luto coletivo não é apenas um fenômeno emocional, mas também um processo de adaptação social, em que o grupo precisa reformular seus vínculos, reconstruir significados e restaurar sua identidade diante da perda.

Ritualizar para Reorganizar

Destaca-se a importância de rituais simbólicos para processar o luto. No caso do luto coletivo, esses rituais são essenciais: memoriais, feriados, atos simbólicos, obras de arte, protestos… tudo isso serve como uma forma de reconectar a sociedade com aquilo que foi perdido, agora sob uma nova perspectiva. Esses momentos permitem que o grupo honre a memória da perda, reafirme seus valores e encontre sentido mesmo na dor. Um Caminho de reelaboração coletiva é entender o luto coletivo pela lente da Teoria do Apego nos mostra que a dor compartilhada também pode ser um caminho para a reconstrução social e emocional. 

É nesse processo de conexão, expressão e ressignificação que encontramos forças para seguir juntos. O luto saudável envolve reconhecer a perda e encontrar formas de se reconectar emocionalmente com a figura ausente de maneira simbólica. No luto coletivo, isso pode ocorrer por meio de rituais públicos através de redes sociais, memoriais, expressões artísticas e mobilizações sociais, que ajudam a comunidade a reconstruir e reelaborar o luto.

Conclusão: Vínculos diretos & Indiretos: O Invisível que nos Une

Conclui-se que luto coletivo oferece a criação de espaços para expressão de sentimentos e memórias que são fundamentais para que uma comunidade possa processar suas emoções  de maneira saudável, reforçando os laços sociais e promovendo a cura emocional coletiva por vínculos diretos e indiretos. Lutos por vínculos direto são em termos de relações interpessoais, vínculos diretos são conexões pessoais fortes, como aquelas entre familiares, amigos próximos ou colegas de trabalho com quem se interage diariamente ou regularmente. Esses vínculos são caracterizados pela comunicação frequente, apoio mútuo e um entendimento compartilhado que se desenvolve ao longo do tempo.

Quando falamos sobre luto, frequentemente pensamos nas perdas diretas: a partida de um ente querido, o fim de uma amizade próxima ou a despedida de um emprego que significava muito para nós. No entanto, há um tipo de luto que muitas vezes passa despercebido, mas que pode ser igualmente impactante em nossas vidas: o luto por vínculos indiretos.

Esses vínculos, embora não sejam conexões imediatas, têm um papel significativo em nosso bem-estar emocional e social. Pode ser o colega de um amigo que sempre nos fazia rir, um mentor distante que nos inspirava com seus e-mails ocasionais ou até mesmo a rotina de um local que frequentávamos apenas por associação. A perda de tais conexões pode não ser tão evidente quanto a de vínculos diretos, mas a ausência delas frequentemente nos deixa um vazio e uma sensação de desconexão.

O luto por vínculos indiretos também se manifesta em comunidades mais amplas. Por exemplo, quando uma figura pública que admirávamos falece como Papa Francisco, mesmo que não a conhecêssemos pessoalmente, sentimos a perda devido ao impacto indireto que ela tinha em nossas vidas através de suas obras, palavras ou ações. Da mesma forma, a degradação ambiental pode causar um luto indireto, pois perdemos a conexão com espaços naturais que, mesmo distantes, contribuíam para nosso senso de pertencimento e esperança no futuro.

Reconhecer o luto por vínculos indiretos como a perda do Papa Francisco é um passo importante para validar nossas emoções. Essas perdas podem desencadear sentimentos de nostalgia, tristeza e até mesmo de ansiedade, pois nos lembram da fragilidade das redes que construímos e das quais dependemos. É essencial permitir-se sentir esses sentimentos, refletir sobre o valor que essas conexões traziam e buscar formas de preencher os espaços deixados por elas.

Em um mundo interconectado, onde as relações se entrelaçam de maneiras cada vez mais complexas, honrar o luto do Papa Francisco é também uma forma de reconhecer e a importância de seu legado. Não apenas homenageamos o que foi perdido, mas também fortalecemos nossa compreensão sobre o que realmente nos une como seres humanos.

Portanto, não negligencie o peso dessas perdas não óbvias sob os vínculo diretos e Indiretos. Permita-se sentir, refletir e, se necessário, buscar novas conexões que possam trazer conforto e continuidade à sua rede de apoio emocional e social. Os vínculos indiretos podem ser sutis, mas sua ausência é sentida, e seu reconhecimento é parte do processo de reelaboração.

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